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  • Por Camila Cavalcanti, 15/09/2017

Transformação

Estou com 38 anos, sou casada, tenho três filhos lindos e, hoje, me considero uma pessoa realizada e feliz. Eu sou a Camila, mas, como você não me conhece, vou contar a minha experiência. Ela pode não parecer muito importante ou pode até se parecer com tantas outras experiências vivenciadas por tantas outras pessoas como eu. Entretanto, essa minha vivência recente fez com que eu buscasse caminhos de uma vida mais feliz e saudável. Então, acho que vale a pena contar para você.

Quem já passou por algum tipo de transtorno afetivo, como depressão pós-parto, crise de pânico, consumismo compulsivo, exercícios desenfreados para cansar um corpo já sem energia, um vazio apesar de uma vida cheia e corrida e, principalmente, para quem busca uma finalidade positiva e produtiva na vida, irá me entender também.

Bem, vamos à minha história de vida e como encontrei o meu caminho. Há alguns anos, depois do parto da minha segunda filha, desenvolvi um princípio da Síndrome do Pânico. Esse tipo de transtorno nos faz sentir um medo agudo e intenso, de modo recorrente e inesperado. O Pânico mexe com a respiração, como se faltasse o ar (você tenta respirar, mas o ar não entra), deixa o corpo acelerado e você sem controle sobre ele, e você reage de forma intensa com as pessoas à sua volta. É um medo, uma angústia, uma ansiedade sabe-se lá do quê. Talvez de alguma “bagagem” (alguma coisa mal resolvida), em algum tempo da nossa vida.

Meio que perdida com essas sensações e duas crianças pequenas (uma recém-nascida), eu fui buscar o colo da minha mãe, em Ribeirão Preto, São Paulo. Lá, busquei a ajuda de um primo neurologista. Vendo o estado em que eu me encontrava, ele receitou um medicamento leve, mas, deixou bem claro que uma atividade física iria me ajudar muito e até sugeriu a corrida como uma boa escolha de exercício para que eu queimasse toda aquela energia que explodia dentro de mim.

Até então, como mãe de primeira viagem, o único exercício físico que eu praticava era carregar criança no colo de um lado para outro. Mesmo assim, segui a orientação dele e escolhi a corrida como atividade física. Em pouco tempo, queimando toda aquela energia acumulada dentro de mim e cansando o meu corpo ao máximo, em pouco tempo, deixei de tomar o medicamento. Como vi esse progresso imediato, virei uma fanática em corridas de ruas. Ah!!! Como isso me fazia bem!! Eu me “enchia” de energia, me inspirava e grandes ideias surgiam durante essas corridas. Era a minha hora sagrada e um novo mundo se abriu para mim. Com a corrida, eu viajava e conhecia outras cidades, parques... Era um momento mágico... Competições, medalhas, eventos, um social coletivo, não sabia viver mais sem isso. Entretanto, estava se tornando uma compulsão; e o exagero não é nada positivo.

Como um sinal do destino, em janeiro de 2017, eu sofri um acidente esquiando e, contra a minha vontade, busquei uma solução para a minha nova rotina. Qual? A mais difícil de todas: sim, parei com as corridas por um bom período!

Sem essa fonte de inspiração (a prática desportiva), eu tinha que descobrir novos caminhos. Como não estava mais utilizando o medicamento, reapareceu o medo de sentir medo novamente, de voltar a sofrer da Síndrome de Pânico.

Eu, superansiosa, mal conseguia parar de “trepidar” a perna enquanto comia ou estava em uma reunião. E eu me via sendo desafiada a mudar a criar um novo estilo de vida.

O meu marido – sábio e grande companheiro – estava estudando uma linha nova de alimentação e de estilo de vida. Fiquei mais atenta aos comentários dele e aberta para aprender com ele essas novas opções de melhor qualidade de vida. E assim um novo olhar se despertou dentro de mim...

O primeiro passo que dei foi começar alguns cursos: de meditação, de alta performance, de reaprender a respirar e até de sorrir pela manhã, para mim mesma, olhando para o espelho. Este último é bem divertido!

Quanto mais estudava e praticava os exercícios, mais entusiasmada eu ficava com aquele novo mundo que se abria para mim. Nessa busca por novas oportunidades, criei uma lista das coisas de que eu gostaria e que não gostaria de fazer, quais eram as habilidades que eu reconhecia em mim e como eu podia usá-las para melhorar a minha saúde física, mental e emocional.

Comecei a administrar melhor o tempo e “investi” nas coisas que me davam (e dão) prazer: ser uma mãe melhor, ter um contato maior com a música e apreciar a natureza a ponto de sentir tudo o que ela pode me proporcionar. Além de ser um relaxamento e tanto para a alma, eu sentia que estava dando um carinho no meu “eu”, na minha essência de ser.

As transformações foram acontecendo, dentro e fora de mim. Eu me reestruturei internamente e percebi as coisas externas de outra maneira, de uma forma bem diferente. Nessa descoberta, eu me “desapeguei” e encontrei novos usos para as minhas coisas (inclusive as que, mesmo novas, eu não usava mais). Roupas e sapatos, brinquedos e outras coisas minhas e das crianças tiveram um novo destino: um grande bazar. Com tudo bem baratinho, obtive uma boa verba e dediquei o valor a uma campanha de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Eu sentia que até as “peças ficaram mais felizes” por terem achado um novo lar e um novo uso para elas.

A cada nova mudança que eu praticava, mais eu chegava à conclusão de que a vida podia (e pode) ser mais fácil e muito melhor aproveitada do que eu imaginava. E isso me fez (e faz) muito feliz. E com o desejo de continuar sempre em busca de novas ações boas para mim e, consequentemente, para a minha família. O famoso efeito dominó.

Fiz um balanço de vida, de emoções e também de finanças. Como é que a gente pode comprar tanta coisa que nem precisa e, muitas vezes, nem chega a usar? Consumir é a ordem do mundo moderno! Mas quem disse que isso é positivo e saudável? Hoje, analiso minhas contas e percebo que gasto um quinto do valor que gastava quando eu era ansiosa. A compulsão em comprar já é um sinal de que as coisas não andam bem dentro da gente. A “luz vermelha” do alerta começa a piscar e grita: TEM ALGO ERRADO ACONTECENDO!

Com tudo isso, observei que a maior transformação em mim foi que a palavra “PRECISO” sumia do meu vocabulário para situações como “preciso correr”, “preciso comprar”, “preciso ganhar dinheiro”. Isso não existe mais dentro de mim.

Entendi que, com o consumismo, a gente se transforma em vitrines ambulantes e que somos julgados (ou pensamos que somos), de alguma forma, pelo que vestimos ou usamos. É como se toda novidade que surge no mercado será fundamental para a nossa qualidade de vida. Entendi também que dar mais valor ao que é suficiente faz da gente pessoas mais criativas; dar mais utilidade e mais vida útil ao que já temos cria uma sensação muito boa. Entendi que eu precisava dar um basta ao consumismo desnecessário. Entendi que precisava praticar o desapego. Percebi que importante para mim é ter apenas aquilo de que necessito, sem exageros. E percebi, acima de tudo, que a expressão “PRECISO” existe agora na minha vida apenas para coisas realmente importantes, coisas que me fazem bem por dentro e por fora.

Quanto ao que eu achava impensável foi ficando para trás: toda uma história de corridas concluídas e inúmeras medalhas. Não que o esporte não seja benéfico, pelo contrário, ele é importantíssimo; mas eu precisava aprender a abrir mão de alguns hábitos, mesmo que temporariamente, para buscar outras decisões importantes para a minha saúde. Aprendi novos estilos de vida, afinal eu precisava descobrir outras formas para me sentir mais feliz. E, para conquistar novos desafios, precisei sair da área de conforto.

Hoje, escolho viver com o suficiente. Nem mais nem menos, apenas o suficiente para ser feliz e viver bem. E foi dessa forma, priorizando a minha saúde integral, que encontrei o meu caminho.

Entretanto, acredito que o grande desafio na proposta de viver respirando melhor (até porque o pânico desestabiliza completamente a respiração) não está em largar tudo, mais sim de se reinventar. Criar uma nova relação com as coisas e com a vida, usar todos os recursos que já temos em mãos de uma nova forma. E mudar hábitos grandes ou pequenos é, agora, o meu exercício diário.

Ao experimentar este novo estilo de vida, sem excessos, compreendi que a relação do indivíduo com as coisas materiais é limitada e torna a pessoa muito mais preocupada em TER do que SER. Não é fácil desacelerar e querer menos, até porque fomos educados de forma diferente disto. Mas cheguei à conclusão de que todo o esforço que dedico até este momento tem valido muito a pena!

Enfim, acredito que desapegar é a ação que reforça o meu sentido de vida sobre a minha passagem aqui nesta Terra!!! E a minha constante busca está em aprimorar a minha atitude, reforçando a minha saúde física, mental, emocional e principalmente a espiritual, tanto para o meu bem como daqueles que me rodeiam.

Camila Cavalcanti - Administradora e Criadora do Movimento do Otimismo

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